sexta-feira, 13 de março de 2015

O problema do "Brasil"

O problema do Brasil
Uma abordagem político cognitiva

Por Elielton Alves Amador

“O problema do Brasil são os políticos”. Pensando bem, não, “o problema do Brasil é o povo”. Afirmações performáticas como estas, que há muito tentam explicar nossos problemas, resumem a visão rasteira sobre as dificuldades da sociedade brasileira. Afirmações como estas estão na mesma base radical daquelas que dizem que “bandido bom é bandido morto”, muito repetida, por exemplo, por deputados policiais com formação filosófica ou sociológica zero; mas também estão na mesma origem de afirmações como a que diz que a “classe média é uma aberração cognitiva”, repetidas por doutores filósofos de carteirinha partidária.
O problema do Brasil, quando deixarmos de tentar explica-lo de maneira simplista, será muito mais complexo do que se imagina. Só de pensar, dá preguiça de continuar esse texto. Coisa de intelectual brasileiro.
Mas o fato é que o Brasil vive em guerra cognitiva. O Brasil é multipolar. A guerra civil ou o golpe de estado anunciados no wathsapp podem não ocorrer, mas não duvide. O que parece também é.
Aldous Huxley teve uma viagem de ácido e afirmou ter entendido que a droga era uma estratégia da Rússia para acabar com o “espírito americano”. Tive uma viagem pelas redes sociais e quase descobri que a droga pode ser uma estratégia dos EUA para implodir o “espírito brasileiro”.
O Brasil pode ser multicultural, diverso culturalmente e o caralho a quatro, mas o Brasil não é o centro do mundo, e precisa se ver como um projeto de nação, que nunca foi. Ou não, mas precisa se ver em alguma coisa que todos tenham a mínima noção do que seja. Porque não sendo o centro do mundo, o Brasil precisa ter uma política internacional. Mas para isso precisa saber o que é sua casa. Mi casa, su casa.
O Lula não é “burro”. Ele está mais para um “esperto”. Quem passou pelo que ele passou tinha que desenvolver capacidades cognitivas e persuasivas. Mas ele parece sincero, desenvolveu um carisma mesmo quando mente. Dilma mente sem carisma. Sem persuasão, ganha a ojeriza da classe média de baixa cultura e baixa cognição, que eles não são burros.
Talvez você diga que a presidenta não mente. Mas a mentira dela consiste em uma meia verdade mal dita.
O Lula fez o Brasil crescer explorando a cognição do status quo. O status quo brasileiro! Sacou o que o pobre queria e o que o empresário queria. Um queria comer e comprar geladeira, carro, fogão. O outro queria vender. Durante um tempo isso sustentou a ilusão de crescimento e desenvolvimento social. Mas a educação (afinal somos agora uma “pátria educadora”) ainda não conseguiu elevar a percepção do povo brasileiro.
Um homem educado, é que nem um homem nu, todo vestido por dentro, diz Emicida. É isso! A riqueza de um povo não está no que ele pode comprar. E uma nação com tanta diversidade, tanta desigualdade social e econômica, não pode se equilibrar sem uma guerra entre as classes dominantes e dominadas, mesmo que essa guerra seja simbólica e virtual.
O pelego não vai segurar essa onda se o cavaleiro não aliviar o lombo do burrito. Entendeu?! Ou não entendeu? Como diria um antigo editor meu, “então, vai pensado, quem sabe um dicionário ajude.”
Uma nação como o Brasil, já disse Celso Furtado, não pode achar que seu desenvolvimento será pautado exclusivamente pela ilusão do crescimento econômico. Mas todo dia nos jornais o “pibinho” do Brasil é achincalhado pelos especialistas de coisa nenhuma e pelos jornalistas que não entendem nada. Fazem o jogo dos patrões e só! A comunicação do PT não consegue desconstruir essa ideia. Ou porque acha que o povo é burro e não vai entender. Ou porque ele mesmo não entende. Entende somente a lógica empírica, da política desenvolvida por Lula, de alianças e estratégias de manutenção do poder e do status quo.
E o PSDB? Bem, talvez o FHC tenha entendido alguma coisa. Dizem que ele andou dando uns tapas na pantera preta da marijuana e isso lhe abriu a mente. Mais ninguém mais do lado dele quis compreender ou compartilhar esse baseado. Aécio só quer saber de cafungar, deixou a barba crescer pra tentar confundir certas noções de “esquerda/direita”. Coitado!
E ensinar...?! Além da preguiça, FHC ainda tem que preservar as vantagens de estar onde esta. E não preciso dizer mais nada. Ou preciso?!
Tem saída? Não. Não em um partido. As pessoas têm que se olhar no olho e conversar, ir à aula, ao trabalho... e conversar. Ler um livro e pautar a televisão e os jornais. Com seus problemas reais e os problemas comuns. Para entender o problema comum tem que ter comunicação! É pra isso que serve! Não pra mascarar o interesse de uns.
Tem que limpar a calçada e ligar para o prefeito cobrando. Não interessa se ele é do seu partido ou se ele emprega a sua sobrinha, que não estudou, e não conseguiria, por mérito próprio, nem um estágio na iniciativa privada, sem QI.
Não sei de onde virá a solução, mas eu sei que essa virtualização da vida nos tira a concentração. A gente tem que botar o pé no chão e sentir o território. Se proteger do frio e da fome, e, ao mesmo tempo, fazer crescer o mundo das ideias na nossa cabeça. Quem sabe assim o “Brasil” que todos acham grande em suas “ideias”, em sua “percepção”, seja, enfim, tão grande quanto seu território. Até lá, muitas batalhas serão travadas. Parece. 

Nenhum comentário: