quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Cenas, textos e mesas



 A jornalista Yorrana Oliveira, produtora da revista Conecte!, do grupo Ideal, me convidou para escrever um artigo de 2 mil toques motivado pela pergunta "por que o rock paraense não conseguiu o mesmo sucesso que o tecnobrega ou as guitarradas". Disse que era uma pergunta difícil mas topei escrever sobre o conceito de cena musical do canadense Will Straw, uma vez que ele explica bem a relação sensível das cenas mais rústicas e originais como suponho ser a do rock paraense. Consegui escrever 2,9 mil toques -- a edição se encarregou de eliminar os excessos para caber na página da revista, que você pode conferir gratuitamente nos pontos de distribuição da Jokerman pela cidade. Aqui você confere a página e o texto original na íntegra. 
 Aproveito para informar que nesta sexta-feira participarei da Semana de Comunicação da Cesupa, na mesa de debate "A expansão do blog no consumo das massas", que acontecerá às 16h no Auditório da Unidade CESUPA da Alcindo Cacela, n. 1523, que fica localizada entre a Av. Governador J. Malcher e Av. Magalhães Barata. 


Cenas musicais e mercado
ou sensibilidades e articulações

O sucesso comercial raramente se confunde com a efervescência de uma cena musical. São necessários muitos fatores de mediação em favor, principalmente, do mercado para que cenas musicais locais possam ser “alçadas” a uma condição de destaque nacional em nível de mercado. Os exemplos mais clássicos são o grunge de Seattle e o manguebeat de Recife.
Convém visitar um novo conceito de “cena musical” utilizado pelo sociólogo canadense Will Straw. Para ele, a cena nasce nos afetos e sensibilidades, onde o compartilhamento da música gera a criatividade que produz efeitos sociais, econômicos e culturais em um espaço geográfico. Por exemplo, garotos que curtem rock juntos decidem montar bandas para aplacar o tédio. Essas experiências sensíveis começam a impactar as dimensões culturais, sociais e econômicas na medida em que formam identificações, mobilizam o comércio de instrumentos, estúdios etc e ocupam o espaço intersubjetivo com as imagens criativas de suas canções (em shows, rádios...).
Para caracterizar uma cena, é necessário ter sensibilidade e articulação. Ou seja, é preciso que os sujeitos dessa cena tenham uma interação produtiva, criando a efervescência cultural. Mas Straw foi criticado e teve que admitir que não somente as sensibilidades impulsionam ou retraem as cenas. Políticas públicas e fatores econômicos podem diminuir a intensidade ou criar agenciamentos políticos.
Penso que uma cena que ganha dimensões comerciais sofreu necessariamente, direta ou indiretamente, a ação do mercado, que não quer a efervescência, quer a qualidade técnica e os fatores estéticos que atendam aos padrões estabelecidos. O rock paraense, pela sua natureza instintiva, é resistente a isso.
Daí a importância do Carlos Eduardo Miranda para o Terruá Pará e o destaque da nova cena paraense. Miranda nos acompanha desde 2003. Encontramo-nos nesse ano em São Paulo e ele conhecia a minha banda, a Norman Bates, que ele declarou admirar. Mas sabia que a banda ainda tinha que ter muitos acertos para se encaixar nos padrões midiáticos ou fonográficos. O mesmo se pode dizer da Madame Saatan e de outras, mesmo as mais pop de Belém.
Questões de gênero e econômicas também podem provocar as oscilações de mercado. Pode haver um produto em falta no mercado e ele tem que ser substituído por outro. Ou o custo de um é mais barato que o outro... A construção de um mercado regional ou um novo mercado nacional que aprimore a técnica e crie novos valores estéticos da cultura de massa é uma utopia boa, vivida por quem acredita em conceitos como economia criativa e economia solidária, por exemplo. Continua sendo um caminho quando há sensibilidade e articulação.