segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Sistema nervoso central

A máquina perfeita. Era proibido fotografar, mas a pirataria é como o cancer. Quando menos você espera, ela se manifesta.

Por Elielton Amador

Num único momento de distração dentro da longa semana que passei em BH, discutindo, reunindo e fazendo negócios na Feira Música Brasil, fui ao Shopping Boulevard ver a exposição sobre o corpo humano que roda o mundo. Era uma oportunidade rara e meu amigo João de Deus queria vê-la. Ocuparia não mais que duas horas da nossa manhã e seria um importante instrumento de conhecimento geral, que, segundo ele, sabiamente, é importante para o desenvolvimento de qualquer profissional.

Lá fomos nós para a exposição. R$ 40, suados, para ver corpos dissecados, cérebros expostos em tridimensão, alguns com marcas de hemorragias de AVC, pulmões negros consumidos pelo tabaco, e as várias fases de desenvolvimento de um embrião a feto. Além de ter os sistemas orgânicos todos muito bem explanados e compreendidos dentro de uma engrenagem perfeita. Sim, aquele clichê médico de que o corpo humano é um organismo perfeito está valendo.

A vida de hoje, com toda a tecnologia e toda a intricada rede de relacionamentos humanos, acaba por nos fazer esquecer o básico: como funciona o nosso corpo. Saber como esse organismo funciona através da integração de sistemas de funções específicas para a manutenção do todo, nos ajudaria a preservá-lo melhor, saudável.

A sensação, depois de passar pela exposição, é um misto de insegurança e de encantamento. A vontade que dá é de preservar aquele corpo o mais longe possível do câncer. Câncer que é a rebeldia das células para com o sistema do corpo. Elas parecem se negar a trabalhar para a manutenção do organismo. Muito provavelmente, são provocadas pelas agressões a que o próprio corpo é submetido.

De forma um pouco lúdica, fico imaginando, com base na teoria evolucionista, em todos os milhões de anos que bactérias e células se constrangeram e se desentenderam até gerar vidas menos complexas e gradativamente evoluíram até vir a ser este organismo perfeito.

Alguns crentes, que acreditam na inferência de Deus nesse processo, podem dizer que ele deu o sopro de vida que motivou a criação do homem à sua imagem e semelhança. Sendo assim, Deus poderia ser algo tão primitivo quanto todas essa unidades celulares, mas que, dentre elas, teve uma ideia brilhante de que se podiam se unir num único organismo, poderiam evoluir e crescer. E a sua própria imagem e semelhança lhe fez assim, cada vez mais nobre, forte e sábio diante de seus pares. Yes, we can, teria dito a célula mater.

Esta é uma parábola absurda! Mas juro que foi mais ou menos assim, associando as idéias sobre o funcionamento do corpo humano, seus sistemas interdependentes (como sistema nervoso, sistema circulatório e sistema digestivo, integrados uns aos outros numa maquina capaz de quase tudo, inclusive de gerar outras vidas), que pensei a rede que se estabelece hoje em torno da música do Brasil.

Em alguns momentos, nesse estágio mais primitivo, alguns quiseram alienar alguns dos pais dessa criança, que ainda nem saiu das fraldas, mas que agora começa a engatinhar de forma mais organizada. Consideremos seus sistemas interdependentes como as redes regionais e a rede central, que em analogia seria o nosso sistema nervoso. A gestão do MINC nesses anos teria a importância de um sopro quase divino em estimular a organização desses microorganismos, que hoje trabalham pela nova música brasileira.

Com essa breve parábola cientifico filosófica, inauguro uma série de pequenos textos a respeito das ações e diretrizes tomadas durante a Feira Música Brasil 2010, realizada entre os dias 8 e 12 de dezembro em Belo Horizonte (MG). Em especial as travadas pela delegação paraense na Feira. Sejam bem-vindos!

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