quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Música para tocar

Mais um registro de Ana Flor

No dia primeiro de outubro, o jornalista Ismael Machado, colunista do caderno Por Aí, do Diário do Pará, e autor do livro “Decibéis sob mangueiras”, sobre o rock paraense, publicou um texto a respeito de Souvenir, da banda Suzana Flag, disco produzido por mim e por Joel Melo, premiado pelo edital da Secretaria de Estado de Cultura em 2008. O disco foi refeito depois da crise interna da banda em 2006. A Suzana Flag é, na minha opinião, reflexo de como ainda precisamos amadurecer para consolidar um mercado e uma política pública séria no setor cultural paraense. Uma necessidade premente é a classe artística se organizar e discutir a necessidade de uma política de Estado e não políticas de governo. Avançamos nesse sentido nos últimos quatro anos, principalmente porque o governo petista abriu finalmente o Estado para as políticas públicas federais, implementadas através do Ministério da Cultura por Gilberto Gil. O texto de Ismael merece o registro. Por isso, transcrevo-o na íntegra.


Souvenir

Por Ismael Machado
Caderno Por Aí - Dário do Pará - 1 de outubro de 2010
Coluna Parabólica

Suzana Flag foi uma das bandas que estiveram na linha de frente naqueles três anos intensos para a música pop paraense, entre 2004 e 2006. De um jeito caseiro, quase tosco de tão artesanal, produziu Fanzine, um belo disco de canções de amor agridoces e urbanas. Período em que a banda tinha uma afiada dupla de compositores, Joel Melo e Elder Fernandes.

Nessa fase vieram canções como Recreio, Ludo Boas Novas, Sem Você e a mais bela e pungente de todas, Contraposto, com uma guitarra que emulava Love Vigilantes, do New Order, uma letra docemente dolorida. Elder saiu da banda. Crises, amadurecimentos, mudanças. Pequenas revoluções internas. O cenário pop paraense mudou novamente. Refluxos.

Como que numa espécie de casulo, a banda começou a pensar num segundo disco. Demorou, mas Souvenir já está aí, filho solto no mundo.

E o que há nesse disco? Uma produção caprichada, um disco feito com esmero. E um conteúdo que parece pegar a banda numa fase de transição, como se, por conta de todas as dificuldades que fazer música pop em Belém as bandas não estivessem sempre em transição.

“E agora que os meus heróis estão acorrentados / cativo o meu algoz / num céu iluminado / de repente o mundo não é tão seguro / vou ficar no meu abrigo...”. Os retalhos de amores, ilusões, sonhos e desesperanças adolescentes se transformaram num híbrido ainda por se definir. É como cantaria a Legião Urbana: “o mundo anda tão complicado”, mas numa melodia completamente doce.

Entre 2005 e 2006 o mundo parecia do Suzana Flag. Um cenário aberto se apresentava. Mas as perdas foram se acumulando. Algumas certezas se diluíram. Mas resta a fé. Aquela que diz para não “não se prostituir e não envelhecer”, como eles mesmos cantam. As certezas podem então ser poucas, mas são verdadeiras. “Você tem medo de chegar aonde quer (...) eu tô no rumo mas vou indo bem / andar errado às vezes convém / caminho longo, atalho até que tem.”

Há um atalho? Há um caminho mais fácil? Pode ser, mas pode ser também que seja preciso dar uma pausa, olhar para os lados, “um repouso ou esforço para recomeçar”.

A produção caseira do primeiro disco ficou para trás. Mixado e masterizado no Rio de Janeiro, o som da banda ganhou qualidade técnica, levou um banho de estúdio. Perderam-se talvez, um pouco da ingenuidade e do frescor do Fanzine, com seu punhado de canções atemporais.

Mas há ligações com esse passado não tão distante. “3d” é uma das canções que resgatam a antiga sonoridade do Suzana Flag. É uma autêntica silly love song, como diria Paul Macartney. E na maioria das vezes essas “tolas” canções de amor são as que tocam mais fundo, buscando espaço entre nossos amuletos, nossos baús emocionais, nossas memórias semi-esquecidas. São como imagens em três dimensões que estão ali ao alcance das mãos. Basta acionarmos.

“Dual” é doce, com um belo quinteto de cordas, que poderia, no entanto, fazer a banda alçar um vôo mais ousado, deixar a música crescer. Ela acaba num repente que pede mais. “Um beijo só lhe tocou, tão forte assim / tão fácil assim // sinta-se só no amor”.

“Se aquilo que você sonhou aconteceu, agora é tarde”. A maturidade cobra preços. O tempo pode ser algoz, mas na música pop essa é uma das lições básicas: queimar intensamente? Pupar-se e ganhar longevidade? São questionamentos. “É pra se divertir, mas não enlouquecer”, eles cantam em Soft.

Mas é na última canção do disco que surge a mais Suzana Flag das canções de Souvenir. “Um dia de cada vez” traz aquela incessante busca pelo pop perfeito que sempre caracterizou a banda. Uma canção que ensina sobre as boas coisas da rotina, do dia-a-dia, se saber que há, sim, as noites de sexta-feira, com os exageros e doses a mais. Só que há sempre também um café da manhã no dia seguinte, sob o olhar atento dos pingüins de geladeira em ressacas cada vez menores, pois o trabalho está ali, na segunda, esperando.

“Mas a alegria é um dom, acredite em você, eu te vejo de manhã”, Susanne canta, como um souvenir para uma manhã de sábado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Feio vc espalha q o Paulo Xaves volta p Seculte se o Jatene ganhar.
Ja é desespero de perder emprego e as teta do governo? kkkkkk
As pessoas te conhece e se o Jatene ganha vc n tem vez.
Vai cai a sua maskara.