quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Orgulho índio

Foto de Lucivaldo Sena

Sábado, 31 de outubro. Parque Ambiental de Paragominas, Pará. Faltam pouco mais de 20 minutos para as 18h e uma índia Assurini, etnia que eu já conhecia de visitas a uma aldeia em Tucuruí, finaliza uma pintura nos meus braços. Nesse momento, as delegações dos vários povos reunidos para os décimos jogos indígenas, hospedadas em várias ocas no espaço conexo à arena, começam a se preparar para entrar em cena.
Os anfitriões Tembé se reúnem e fazem uma oração. Todas as demais etnias, com suas pinturas e adereços característicos, começam a sair das ocas e a dançar, cantar e tocar instrumentos de percussão como o maracá. Os Assurini usam instrumentos de sopro de quase dois metros de comprimento, feitos em bambu. Três índios tocam um acorde grave e constante. O som é hipnotizante. A lua cheia já começa a brilhar no céu, mesmo com o respingo de luz do final da tarde. A poeira levanta com o pisar de pés descalços.
Jornalistas e fotógrafos são proibidos de entrar naquela área. Apenas os atachê (ajudantes) e os organizadores conseguem imagens privilegiadas desse ritual coletivo de celebração. Aos poucos as tribos vão se organizando em fila para entrar na arena. Na saída da aldeia para entrar na arena uma pequena multidão de fotógrafos profissionais se arma, sedenta.
Na arena, um grande sistema de som com PAs tipo air fly (usados em grandes concertos de rock ou música sertaneja) toca canções de “brancos” com a temática indígena. “Todo dia era dia de índio”, de Baby Consuelo, é a mais comum, mas rola até “Índios”, da Legião Urbana. O ritmo dançante contrasta com o som tribal na aldeia ao lado. O apresentador Pacífico Júnior, que chegou há uma semana na cidade, faz a preparação do espetáculo com carisma. Apresenta as autoridades e anuncia o acendimento das tochas. Conta histórias sobre o senso comum que diz que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil. Exalta a figura indígena.
Quase 10 mil pessoas lotam as arquibancadas. Por volta das 18h20, as etnias começam a ser anunciadas. Os Tembé, que tem uma reserva em Paragominas, são os primeiros, os anfitriões. Uma a uma são anunciadas as delegações: Kaiapó (MT), Kaigang (RS), Xokleng (SC), Xavante (TO)... cada uma é anunciada com as suas características e os seus maiores dotes esportivos. Na entrada, soa a introdução de “O Guarani”, de Carlos Gomes. Eles são recebidos com salvas de palmas e gritos entusiasmados da platéia.
Depois das apresentações, acontece uma corrida de toras. Duas equipes Xavante deram três voltas na arena, revezando em carregar uma tora de buriti de 120 quilos. A equipe número um ganha, mas as duas celebram. Não há placar. “Aqui, mas impotante do que vencer, é estar juntos, celebrando”, explica Pacífico, que participou de todas as edições dos jogos.
Os Terena, etnia do embaixador para as Nações Unidas Marcos, um dos idealizadores dos jogos, dançam no ritual do fogo, celebrando em volta de uma grande fogueira. A lua já está alta. E o ponto alto se aproxima. O Hino Nacional é executado em português e em língua indígena. As piras dos totens que são os símbolos dos jogos são acesos. Estouram os fogos em um espetáculo visual impressionante.
São 20h30 e a abertura dos jogos está oficialmente encerrada. As pessoas se reúnem na arena, conversão com os índios e batem fotos. Algumas meninas chegam a brincar dizendo que querem autógrafos.
Jaqueline Araújo da Conceição, 21 anos, estudante do terceiro ano do ensino médio, junto com a tia e irmãs, parece uma tiete cercando um ídolo pop. “Nossa, eu nunca tinha visto índios tão bonitos”, diz ela, entre sorrisos largos. “Adorei, ainda não tinha visto um espetáculo tão bonito”, concluiu. É só o começo. Ainda tem uma semana de jogos pela frente.

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