segunda-feira, 22 de junho de 2009

Liberdade de escolha

Sou jornalista por formação. Quando prestei vestibular, só podia fazer universidade pública. Naquela época, os vestibulares da UEPA e UFPA coincidiam as datas dos exames propositadamente, para eliminar franco atiradores. Eu me inscrevi nas duas instituições, teria que escolher entre o curso de licenciatura em música na estadual ou o bacharelado em comunicação social da federal. A primeira prova foi o teste habilitatório em música. Passei e fiz as demais provas, tendo que escolher, no último dia de prova, entre a concorrência de 1,2 por vagar no curso de música ou de 16 por vaga na federal. Escolhi comunicação. O fator decisivo foi a pressão da família e dos amigos que diziam que eu ia "morrer de fome" se escolhesse ser músico.
O salário de um músico da orquestra do Theatro da Paz confirma hoje o que me diziam naquela época. Não me arrependo. Mas posso dizer que sou tão músico quanto sou jornalista hoje. A diferença é que não posso exercer a função de músico profissional sem a carteira da Ordem dos Músicos do Brasil. Sem ela, eu não posso me inscrever em nenhuma das associações arrecadadoras de direito autoral que compõem o Ecad. Não posso, consequentemente, vender minhas músicas em meio digital de download. Não posso nem morrer de fome com mais dignidade, deixando quem sabe a herança da minha pobre obra artística para a minha filha. Mas meus colegas que cursaram turismo já podem ser jornalistas.
Isso é uma ironia maldosa, para falar sobre a queda da lei que exigia diploma de comunicação e habilitação em jornalismo para se poder exercer a profissão. Confesso que não estou muito preocupado com isso. Sei que é uma mudança importante e mudanças são sempre para a melhor. O que sei sobre jornalismo hoje aprendi na escola e aprendi nas redações, aprendi com meu ofício de músico, aprendo com minhas leituras e com meus exercícios. Ninguém me tira. Conheço bons jornalistas sem formação acadêmica e conheço muitos péssimos com formação acadêmica. O contrário também é verdadeiro em muitos casos. A falta de ética, principalmente, grassa nas redações. Não fosse a oportunidade de relacionar o que aqui relaciono nem comentaria o fato.
Mas e sobre os músicos? Se caiu a lei de imprensa, filhote da "ditabranda", quanto tempo mais vai demorar a reformulação da lei que regulamenta o exercício de ofício que tanto mais que o jornalismo se confunde com o livre exercício da liberdade de expressão? A lei que criou a OMB é de 1969.

Nenhum comentário: