sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Plano Nacional de Cultura em Belém

Nos dias 30 de novembro, 1º e 2 de dezembro, o Ministério da Cultura e a Comissão de Educação e Cultura da Câmara Federal, em parceria com o Governo do Estado do Pará, irão realizar em Belém um seminário sobre o Plano Nacional de Cultura.
O PNC está previsto na Constituição Federal desde a aprovação da Emenda Constitucional n.º 48, em 2005. Atualmente, encontra-se em tramitação na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, sob forma do Projeto de Lei n.º 6835, de 2006. Ao mesmo tempo suas diretrizes gerais são detalhadas pelos poderes Legislativo e Executivo para o encaminhamento de sua aprovação. Durante o ano de 2007, o Ministério da Cultura (Minc) e a Câmara estabeleceram um calendário de audiências públicas para o debate do PNC, visando aprimorar as políticas em desenvolvimento desde a 1ª Conferência Nacional de Cultura. Para 2008, foi programada uma série de seminários pelo país e um conjunto de debates pela Internet. As inscrições podem ser feitas gratuitamente pela internet, no endereço www.cultura.gov.br/pnc. A abertura será na Estação das Docas e os debates ocorrerão no Beira Rio Hotel.

Revelações 001

Assistindo ao Radiola (programa da TV Cultura em rede ncional) ontem à noite ouvi João Marcelo Boscoli dizer que é famoso o ditado que diz que "músico brasileiro só se une se for para ferrar o cantor". Eu não sabia! Será possível mudar essa realidade?! Será que só vou aprender isso tarde demais?!

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Memória Madame


Homenagem à banda Madame Saatan pelo prêmio Dynamite de Música Independente. Registro do meu arquivo pessoal de show realizado no Afrikan Rocker, circuito promovido pela Associação Pró Rock em março de 2004. Com Zé Mário ainda dividindo as guitarras com Edinho.

Premiados

A banda Madame Saatan ganhou o Prêmio Dynamite de Música Independente de melhor álbum de heavy metal do ano, desbancando bandas como Shaaman, Dr. Sin e Viper. O grupo paraense Quaderna levou o primeiro lugar na categoria destaque regional. O promoter/produtor/assessor Bernie Walbenny ganhou na votação on line o primeiro lugar na categoria personalidade do ano. Cachorro Grande (álbum rock), Vanguart (indie rock), Lipstick (pop), Sugar Kane (hardcore), Fernanda Takai (MPB/samba), Pata de Elefante (instrumental), Tribo de Jah (reggae/ska) e Mallu Magalhães (revelação) são outros destaques. Madame Saatan também estréia nacionalmente, hoje, às 20h, no programa Domínio MTV, o clipe de "Vela", ganhador do Prêmio Ná Figueredo de Videoclipes Paraenses. "Vela" é o segundo video clipe em formato "documental" dirigido pela cineasta Priscila Brasil. Foi gravado durante a procissão do Círio de Nazaré no ano passado. Vale conferir.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Pedreira

Imagine um trocadilho infame. Algo como "a primeira pedra que sai do seu rim você nunca esquece". Não é possível fazê-lo porque toda vez que um cálculo renal descer pelo seu ureter (é assim que chama o canal que leva a urina dos seus rins para a sua bexiga)será uma experiência inesquecivelmente dolorosa. Foi assim comigo na primeira vez (a primeira vez é sempre mais dolorida). A segunda achou de sair do indigitado órgão durante minha primeira visita a Itaituba (região do Tapajós, oeste paraense). Uma maratona de taxi até um hospital que aceitasse o cartão da Unimed (que em Belém já parece um pronto-socorro municipal) e tivesse um médico para me atender e essa foi a pior das experiências com pedras na minha vida. E eu pensando que iria encontrar pepitas de ouro. Queria trazer notícias melhores, mas "a coisa" não me deixou escolha. Garimpeiros, madeireiros, mulheres bonitas, fábrica de cimento na Transamazônica e até o surubim delicioso que jantei na primeira noite, logo antes da crise, ficaram ofuscados pela dor e pela imagem do vaso vermelho amarelado, quando a dita cuja saiu. Na correria para pegar o primero avião que me tirasse de lá, esqueci até o cabo da câmera fotográfica, o que me impede de mostrar agora a paisagem bonita que é o rio Tapajós ao final do dia. O médico, um senhor experiente, e as enfermeiras que cuidaram de mim no quinto hospital em que fui parar fizeram o possível com os poucos recursos. Eu me recupero. Deve ser o inferno astral chegando. Por recomendações médicas, o ritmo de trabalho diminui. Por enquanto. Ah, não se esqueçam de beber muita água e comer pouco sal.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Bonequinha

Joelma, da banda Calypso, está negociando com uma agência de propaganda paraenese a promoção de um novo produto: nada menos que uma boneca da cantora. Eu me recuso a fazer qualquer piada. Mas, o mais curioso, é que o publicitário responsável pela promoção do novo produto pode ser um rocker.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Só uma idéia no coletivo

Quem anda de ônibus em Belém sabe que existe um exército de jovens e velhos oradores que vendem de tudo: poesias impressas ou faladas, balas e sovertes, fé e algumas canções. A maioria é educada, pede licença, desculpa-se pelo incômodo, deseja bom dia aos passageiros e agradece pela contribuição ou a simples atenção. Isso já faz da cultura de quem anda de ônibus. Reparei nisso outro dia durante o discurso de uma adolescente. Depois da exposição exemplar, ela tirou uma bala do saco, enfiou na boca e jogou o papel no chão. Pensei que esses pequenos "empreendedores" aprendem até onde eles consideram necessário para seu ganha pão. Mas não tem uma noção mais ampliada de educação, é algo "utilitário". O próprio passageiro chupa a bala e joga a embalagem pela janela. Talvez o Detran ou a CTBel pudessem capacitar parte desses oradores exemplares e educá-los para programas educativos dentro dos coletivos. Receberiam mais, teriam uma educaçao mais qualificada e seriam ótimos facilitadores/multiplicadores. Alguns deles têm realmente talento pro negócio.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Zumbis de Belém para o Texas

Hoje cedo chegou na minha caixa de e-mails:

Entre mais de 10 mil artistas do mundo inteiro inscritos, a banda paraense Vinil Laranja foi selecionado para participar da edição de 2009 do festival norte-americano SXSW – South by Southwest, que ocorrerá do dia 19 a 24 de março de 2009.
Com mais de vinte anos de existência, o SXSW é uma conferência internacional de música e cinema que acontece anualmente desde 1987 na cidade de Austin, Texas, sul dos Estados Unidos. Com dezenas de palcos espalhados por toda a cidade e aproximadamente 1,5 mil atrações por ano, o SXSW pode ser comparado a outros eventos como a nossa Feira da Música. Assim como acontece aqui, Austin fica repleta de músicos, produtores, jornalistas e formadores de opinião vindos de todas as partes do planeta.
Pela primeira vez, um grupo do paraense se apresenta no South by Southwest, mas alguns brasileiros já tiveram a oportunidade de mostrar sua música no festival. O pernambucano Lenine e o pessoal do Telerama, por exemplo.
O grupo Vinil Laranja, com quase cinco anos de carreira e todas as composições em inglês, vem conquistando cada vez mais espaço na imprensa local e nacional. Fez muitos shows pelo interior do Pará e participou em 2008 do CCAA Fest, onde concorreu com 92 e foi a banda vencedora, prêmio que a destacou em todo o estado.
Com o convite para o SXSW, o grupo começa a gerar repercussão também na imprensa internacional, e tem a oportunidade de conceder as primeiras entrevistas a revistas estrangeiras. A assessoria de imprensa do grupo nos Estados Unidos está sendo feita pela MG Limited, uma das maiores empresas de agenciamento e marketing de artistas do mundo, com sede em Nova York e responsável pela divulgação de nomes como Gilberto Gil, Bebel Gilberto e Maria Rita no exterior.
Como primeiro grupo do Norte do país a ser convidado para o SXSW, a banda Vinil Laranja tem a missão de representar não só o Brasil, mas o todo o Pará nessa grande celebração da música. Como pioneiros, é nosso dever sermos os embaixadores do nosso Estado, promovendo o intercâmbio da música brasileira com a música mundial.
Por meio desta, solicitamos uma pauta neste veículo de comunicação para a divulgação deste evento, já que o mesmo não disponibiliza os recursos financeiros necessários para a apresentação da banda no exterior (gastos passagens aérea e emissão de visto), e uma matéria com abanda ajudaria bastante a obtenção de patrocínio.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Virando a página

Dia 5 de dezembro estarei em Macapá, minha cidade natal (que não visito há mais de 20 anos), para participar de uma mesa redonda no Festival Quebramar, também para a articulação dos foruns estaduais da região norte de música independente. Vou produzir uma cobertura exclusiva para o blog sobre o festival, aguardem e confiram a programação.

sábado, 8 de novembro de 2008

Papel em branco

Vladimir Cunha sempre gostou de aparecer com suas opiniões espetacularmente polêmicas. Desde tempos de O Liberal, quando escolheu como alvo a produção de jovens bandas de rock autorais muito fáceis de ridicularizar em seu estilo. Poderia ter feito o mesmo com o tecnobrega, mas descobriu aí um nicho que rende uma conta bancária com muitos digitos, segundo ele próprio. Enquanto a maioria dos rockers estão na dureza, o tecnobrega já lhe rendeu várias matérias em revistas nacionais, um documentário hypado mesmo antes de sair e programas para a Globo, entre muitos outros trabalhos. Em desacordo com a declaração dele na revista Rolling Stone de outubro, mandei a carta do post anterior aos editores da revista. Tenho recebido muitas menifestações de solidariedade, mas nenhum comentário no blog. Talvez por medo de represálias futuras. Eu, por minha vez, considero legítimo o direito republicano de opinar, e como leitor da revista, e parte da cena roqueira da cidade, de defender manifestações rasas de pensamento como esta. Não é para tanto estardalhaço, mas vale o registro. Chega se deixar passar em branco.

Para quem não achou a resenha on line e não quis comprar a revista, reproduzo:

III Festival Se Rasgum
Festival Paraense chega a terceira edição com estilos variados

Sem o "rock" no nome, o festival Se Rasgum chegou a sua terceira edição. E dessa vez com uma programação bem mais interessante do que a de seus anos anteriores. Mérito da curadoria do festival, que apostou na diversidade. No mesmo palco, o rap com samples de brega e música caribenha do Sequestrodamente e o messianismo GLS do Montage, que literalmente levou às lágrimas a ala gay do público. A ingenuidade charmosa do grupo macapaense Minibox Lunar, com um cruzamento improvável, ainda que um pouco frouxo, de Jefferson Airplane e Banda Calypso; e o rock pós-punk da Plebe Rude. Ou ainda a nova MPB de Wado, Banda do Amor e Curumim, o show mais esperado do segudo dia do festival. E se teve algo a ser comemorado neste terceiro Se Rasgum foi a impressão de que Belém do Pará talvez esteja descobrindo que não tem vocação para o rock. O que é bom. Não fosse isso talvez os indies não tivessem dançado juntinhos durante o show tecnobrega do DJ Malukinho, feito rodas de carimbó durante a apresentação de Os Caçulas da Vila ou descoberto o quanto pode ser pop a surf music de palafita do grupo Metaleiras da Amazônia, apesar do guitarrista presepeiro, um dos grupos locais mais interessantes do festival. Aos poucos, o rock paraense, esse zumbi que ainda se arrasta pelos subterrâneos da cidade, vai dando lugar a sonoridades e misturas bem mais interessantes. Ainda bem.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Caros editores da Rolling Stone Brasil,

Sou guitarrista e produtor das bandas Suzana Flag e Norman Bates, sou o segundo presidente de uma associação que leva o nome “Pro Rock”, sou jornalista e produtor, portanto, tive que vestir a carapuça que o meu colega Vladimir Cunha tirou da gaveta na resenha sobre a terceira edição do festival Se Rasgum “sem rock”. A frase lapidar de Vladimir me chamou atenção, “esse zumbi que ainda se arrasta pelos subterrâneos da cidade”. Como diria meu amigo Buscapé Blues, “é muita frase de efeito.”
Fico pensando que (tudo bem, é uma resenha, que não representa a opinião da revista etc) talvez a Rolling Stone Brasil, que tem contribuído para oxigenar o mercado editorial brasileiro devesse talvez também ajudar a oxigenar o cérebro de quem conduz esse negócio quase falido (quem diz é Midani em sua autobiografia) que é a indústria fonográfica. Eu que faço parte dessa cena quase desconhecida da maior parte do resto do país (fui guitarrista da banda de hardcore Pig Malaquias junto com Vladmir e integrei o Coletivo Rádio Cipó por dois anos em seus primórdios) não sei até hoje que porra afinal é esse tal rock paraense. Imagina o grande público leitor da RS! Talvez, antes de decretar a decadência do gênero na cidade, a revista pudesse produzir uma matéria de fôlego sobre o que é isso afinal, já que a maioria dos jornalistas daqui (mesmo o Vladimir) não conseguem defini-lo, seu fracasso ou sua improvável vocação. Se o rock paraense não tem vocação para a coisa, perguntem a Alex Antunes, a Carlos Eduardo Miranda, a Lúcio Ribeiro ou a Pedro Alexandre Sanches, que já estiveram aqui não uma, mas várias vezes conferindo a produção das bandas locais. Façam suas análises daquilo que é desconhecido do grande público. Ademais, só um legítimo “punk rocker”, que eu conheci em 1991 usando calças rasgadas, coturno e camiseta preta, poderia achar que a diversidade da produção cultural de Belém ou do Pará cabe dentro de um gênero, ou mesmo fora dele. Vladimir deveria ter visto o terceiro dia do festival, ao qual só chegou durante a última banda, onde o palco Bafafá Pro Rock apresentou imensa diversidade, do pop do Suzana Flag ao hardcore dos Rennegados e Delinqüentes, do carimbo do Curimbó de Bolso ao experimentalismo do Clepsidra, entre tantas outras bandas e artistas que apresentam propostas artísticas completamente diferentes do padrão da indústria falida. Mas ele não quer ver, ao que parece. Acredito que o Pará não é mais uma província. Viva o rock amazônico, viva a diversidade, não à monocultura seja ela qual for, a soja, o axé music ou o tecnobrega.

Cordialmente,

Elielton “Nicolau” Amador
Belém – PA

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Sobre o post anterior e a demora em postar

No link da Revista do Brasil vocês puderam checar a matéria que fiz sobre a radiodifusão na Transamazônica. Como prometi, publico os "extras" da reportagem.
Sobre a demora nos posts, não tem sobrado muito tempo mesmo. Tenho que entregar a monografia da minha especialização até o dia 17 e há muito trabalho. Tenho lido as notícias na Rolling Stone. Diverti-me com a reportagem sobre o Metallica e uma expressão curiosa na resenha de Vladimir Cunha sobre a terceira edição do Se Rasgum "sem rock". Dizia sobre o rock paraense, "esse zumbi que se arrasta pelos subterrâneos da cidade", ou algo parecido. Achei engraçado porque parece a típica expressão de típicos jornalistas de rock, frases feitas sobre ídolos decadentes. Se não fosse o próprio "rock paraense" o "ídolo" em questão, já seria muito engraçado.
Não merece mais que isso por enquanto, mas a lista dos 100 maiores artistas brasileiros também é um doce a parte na revista. Peço desculpas a quem tenho cativado com a leitura desse blog e posso dizer, como os ídolos "decadentes" do Metallica, que enquanto ele não atrapalhar o convívio famliar e os trabalhos, ele é viável. Ainda que demore o próximo post.

Radiodifusão na Transamazônica



Boiada na BR-230
Foto de Lucivaldo Sena

Dos 46 quilômetros que percorremos de Altamira (região do Rio Xingu, no sudoeste do Pará) até Brasil Novo, mais de 20 ainda são de terra batida e poeira que levanta quando o carro passa. Mesmo se tiver uma boiada no caminho (os bois e os vaqueiros viajam por vários dias na Transamazônica atrás de pasto), a viagem não dura nem uma hora. Os boiadeiros assopram seus berrantes e a gente “pede licença” no meio do gado.
As distâncias estão diminuindo na rodovia BR-230 – obra inaugurada no governo militar que rasgou a floresta ao meio com a finalidade de promover a colonização da Amazônia. “Homens sem terra, para terra sem homens”, dizia a propaganda da época. Depois de três dias, rodando entre as duas cidades e percorrendo vicinais na “espinha de peixe”, como é conhecida por causa dos “travessões” que a cruzam a cada cinco quilômetros, percebemos que a realidade da região tem mudado. E ainda que as políticas públicas comecem a surtir efeito, muito do trabalho que hoje a torna viável economicamente se deve a ação dos movimentos sociais.
Dos agricultores familiares até o movimento religioso e de mulheres, foram eles que construíram a noção de cidadania que os habitantes da região têm hoje. Esse conceito (cidadania) também está ligado a uma área do conhecimento humano que normalmente está cerceada nos sertões e mesmo nas capitais de centros afastados do eixo econômico do Brasil: a comunicação.
Não por acaso que a região do Xingu foi a primeira a realizar um encontro regional de rádios comunitárias. Um evento que há de significar muito para o crescimento da região, mas não foi citado por nenhuma das quatro emissoras locais de TV de Altamira ou pela única rádio comercial da cidade. Os promotores do evento nem gostariam da publicidade. É que políticos e/ou empresários que usam as concessões em quase todos os municípios do Pará para defender seus próprios interesses econômicos financiam operações da Anatel de fechamento de rádios comunitárias. Ao menos essa é denúncia mais comum no Encontro.
Enquanto o presidente Lula anuncia que a Anatel não está autorizada a promover uma caça às bruxas das rádios comunitárias, no interior do Pará, prefeitos dão suporte de polícia para mega operações, que incluem até helicópteros, para o fechamento de rádios de associações. Por esse motivo também, a reunião das 14 rádios comunitárias da região da Transamazônica ocorre numa sala pequena da Casa do Trabalhador, um centro de serviços no principal bairro de Altamira, onde foi nossa primeira parada, antes de seguir para Brasil Novo para conhecer como funciona lá uma rádio comunitária na Transamazônica.

Apenas um papel de computador, impresso em preto e branco, colado na porta de vidro anunciava o “Primeiro Encontro Regional de Rádios Comunitárias”. Sem bancada decorada, sem logomarcas, banners ou qualquer outro tipo de publicidade, cerca de 12diretores de rádios comunitárias ao longo da rodovia Transamazônica ou do Rio Xingu reuniram-se no dia 5 de julho em um pequeno auditório de Altamira. Dois diretores de rádio faltaram, provavelmente por dificuldades de transporte (depois de Brasil Novo e Medicilândia, as distâncias ainda são grandes).
Sentado de frente para um notebook, Amarildo Madergan, o Arildo, um capixaba de 43 anos que vive na região há mais de 23 anos, inicia os trabalhos chamando a advogada da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos. Leslie Carusso participa, em Belém, do Fórum Paraense em Defesa das Rádios Comunitárias e defende vários militantes, multados ou processados por crimes previstos na legislação que regulamenta a radiodifusão brasileira. Completa a mesa a jornalista Rosane, que estuda as rádios comunitárias do Pará para um trabalho de doutorado e explica aos líderes comunitários um pouco do que sabem os teóricos da sociologia da comunicação sobre o fenômeno responsável hoje por quase 40% de toda a radiodifusão brasileira.
Leslie veio a convite da Secretaria de Comunicação do Governo do Pará. Rosane veio por conta própria, como voluntária.
“O Encontro tem o objetivo de pôr em contato as experiências das rádios da região com o pessoal que trabalha no Fórum em Belém para que a gente possa trocar idéias e buscar alternativas para a nossa luta”, explica Arildo, que ajudou a fundar, há dez anos, a rádio comunitária Popular FM, de Brasil Novo, a 46 quilômetros de Altamira, que ganhou este ano a sua concessão de operação da Anatel depois de 10 anos de batalha judicial e burocrática.
Desde que saiu da Popular FM, Arildo se dedica ao fortalecimento das rádios da
região, criando uma rede de associações comunitárias que usam as rádios como instrumento de fortalecimento da cidadania e de conscientização política. Ocupadas democraticamente por igrejas de todas as procedências e movimentos sociais ou políticos, hoje já são 14 rádios atuantes na região. Duas estão em Medicilândia, a 90 quilômetros de Altamira, e, as outras, em Brasil Novo , Rurópolis, Placas, Pacajá, Porto de Moz, Senador José Porfírio, Vitória do Xingu, Uruará, Gurupá, Belo Monte, Anapu e Altamira. Oito delas já conseguiram a concessão da Anatel para operarem legalmente. As demais estão em processo de legalização, e mesmo com os processos avançados, até o início do ano, contrariando declarações do presidente Lula, era comum operações conjuntas com a Polícia Federal de fechamento de rádios comunitárias, algumas vezes patrocinadas por empresários e políticos da região. A última operação tirou do ar, a rádio de Anapu, cidade conhecida pela atuação da freira americana Dorothy Stang, onde os movimentos sociais são reprimidos pela política de coronelismo e pela ação de alguns fazendeiros.
Mas a rádio de Anapu não deve ficar muito tempo fora do ar. Há alguns anos, o movimento de rádios comunitárias da Transamazônica e do Xingu decidiu, conscientemente, desrespeitar a lei de radiodifusão. Toda vez que alguma rádio é fechada ou tem seus equipamentos apreendidos logo há uma mobilização para reativá-la. “A própria comunidade pede para reabrir a rádio. Em alguns municípios a rádio comunitária é a única que existe e o único meio de informação sobre as questões da região, que interessam aos moradores”, explica Arildo.
Há quatro anos as rádios ganharam um reforço, dado sem querer pelos mesmos que exploram a floresta e a mão-de-obra da região. Em 2003, o Ibama apreendeu seis mil toras de mogno ilegal e o doou para os movimentos sociais da Transamazônica e Xingu, com o consentimento do Ministério Público Federal. A madeira é beneficiada e comercializada através de um consórcio de entidades formado pela FASE, a Fundação Viver, Produzir e Preservar (FVPP) e a Prelazia do Xingu, e já rendeu mais R$ 5 milhões para o Fundo Dema, um fundo permanente que financia projetos de desenvolvimento sustentável. Entre eles, estão projetos de comunicação comunitária que incluem as rádios. Assim, a maioria delas tem se estruturado e tem conseguido vencer a burocracia do Ministério das Comunicações, contratando um advogado para sanar as pendências que surgem a toda hora no processo de legalização das rádios. “Quando eles (da Anatel) vão nas rádios para fecha-las, a gente diz que a culpa é deles, que nós estamos fazendo a nossa parte. Falta o governo fazer a parte dele, acelerando o processo de liberação”, conta Arildo.
Mesmo com os avanços das rádios do Xingu e da Transamazônica, o Encontro é marcado por queixas e lamentações. Darci Costa Lima, borracheiro e evangélico da Assembléia de Deus, é diretor da Rádio Floresta FM, que fica na zona rural de Medicilândia. Depois de ter sido fechada no ano passado pela Anatel, a rádio teve todos os equipamentos novos queimados pela queda de um raio. “As dificuldades desestimulam a comunidade. A gente precisa da participação popular e comunitária, e sempre que uma operação chega fechando tudo, com carros e policiais federais, o povo fica amedrontado, diz que não vai mais fazer esse negócio de rádio comunitária, que não quer ser preso etc”, explica ele.
Luci Costa, da Rádio Fuso Horário FM, de Placas, diz que o trabalho tem momento de desânimo, mas sempre tem alguém “que surge e que a gente espera que possa dar continuidade ao trabalho”.
A partir do Encontro Regional, e estimulado pela política da Secretaria de Comunicação do Governo do Pará, o movimento de rádios comunitárias espera superar seus desafios históricos no estado. Desde que assumiu o governo em 2007, o Partido dos Trabalhadores descentralizou as verbas de publicidade, que migravam basicamente para os dois principais grupos empresarias de comunicação do Estado, e começou a estimular ações de comunicação popular. No mês de agosto, o governo lança seu primeiro edital de projetos de comunicação para a cidadania e assina um convênio com a SPDDH, para capacitar e dar assessoria jurídica e técnica às rádios comunitárias em quatro pólos, incluindo Altamira.
A verba de publicidade do estado agora também pode ser aplicada, na forma de apoio cultural, nas rádios comunitárias legalmente constituídas. “Como a rádio comunitária é, em alguns municípios, o único e mais eficiente meio de comunicação, o governo precisa delas para difundir campanhas educativas e informativas. Ela trabalha também como instrumento mobilizador, convocando a população à participação democrática, e ajudando, assim, a ampliar e fortalecer a esfera pública, prejudicada pelo coronelismo e pela comunicação oligárquica dos grandes veículos familiares de comunicação”, explica José Luiz Miranda, assessor da diretoria de comunicação popular da Secom.
“A gente ainda não sabe como vai ser o nosso futuro porque os desafios continuam sendo muito grandes. Mas a gente espera poder criar uma rede em que possa integrar as informações comuns a todos esses municípios. Precisamos também fortalecer a participação comunitária e capacitar o pessoal que trabalha nas rádios para que eles possam saber realmente como funciona uma rádio comunitária. Como nós nunca tivemos capacitação em comunicação, o que a gente tem de modelo são as rádios comerciais”, explica Arildo.