sábado, 7 de junho de 2008

Qualquer bossa vale uma nota na Amazônia

Parte II

Ao mesmo tempo que a indústria fonográfica mainstream observa a manutenção das quedas de vendas de CDs e DVDs físicos, procura alternativas para a saída da crise diversificando os meios de venda e faturamento. O presidente da ABPD, Paulo Rosa, diz que a indústria deve inclusive recuperar o fôlego na venda de CDs e DVDs este ano. Existem alguns fatores responsáveis por esta sobrevida do suporte de mídia físico, mas não quero me alongar neste assunto neste artigo.
Hoje a recuperação do potencial de lucro da indústria e da publicidade da música comercial gravada é capitaneada pela Internet, o mesmo meio que antes assustou e causou estragos.
De acordo com o relatório da ABPD, as vendas digitais das majors no Brasil em sites de música aumentaram nada menos que 1.620% em relação ao ano de 2006. O volume de faturamento nesses meios ainda é pequeno se comparado à venda de CDs físicos ou a venda através da telefonia celular. As vendas em sites somaram R$ 5,7 milhões em 2007, enquanto que as vendas através de celulares renderam no mesmo ano R$ 15,8 milhões (um aumento 127% em relação ao ano anterior). As vendas em CDs e DVDs físicos somaram R$ 312,5 milhões, menos 31% que no ano anterior. Número muito mais distante dos US$ 930 milhões registrados em 1995, por exemplo, em vendas somente de discos físicos.
Mas some aos valores atuais os ganhos com publicidade e propaganda e a participação das gravadoras em shows (modalidades novas de arrecadação não computadas nos relatórios de vendas), além do fato de que muitos catálogos são antigos (o que baixa os custos de produção que exigem os artistas novos), e eu diria que a indústria fonográfica não vai mal. Na verdade, para os grandes a crise é coisa do passado. Mudaram talvez as margens de lucro que antes eram, segundo Lobão, "estratosféricas".
Mal vão os artistas regionais, que além de terem cada vez mais distante a perspectiva de se inserir nesse mercado, não detêm ainda as condições de desenvolver seus próprios meios de comercialização – uma alternativa paralela ao mainstream seria um mercado alternativo (independente?) forte e profissional.
Mas, da mesma forma que a Internet obrigou uma postura diferente da grande indústria, ela abre a possibilidade de que se desenvolvam indústrias regionais alternativas. Em tese, uma produção rica e que se encontra em fase de evolução e profissionalização como a música paraense, teria, a partir desse novo cenário, condições de popularizar seus artistas regionalmente e levá-los, através da Internet, ao mercado internacional, fugindo um pouco do círculo vicioso da produção comercial nacional, baseada no jabá, na padronização das linguagens e na valorização exagerada dos artistas do “eixo” ou nele radicados.
De acordo com o presidente da maior distribuidora e gravadora independente do País, a Trattore, hoje as indies brasileiras faturam apenas 3% de sua receita com vendas digitais. Mas, Silvio Pellacani Jr, que também é membro da Associação Brasileira de Música Independente (ABMI) diz que as indies estrangeiras já faturam 40% de sua receita com a venda digital. Tudo corrobora para a sensação de “caminho sem volta” em relação ao formato digital.
Criar uma indústria da música na Amazônia, a partir de um projeto específico, parece utópico. Principalmente porque antes de entrar no mercado digital a produção paraense teria que vencer etapas anteriores muito complexas.
Mas pode se tornar real na medida em que existe uma proposta de ampliação da esfera pública baseada na política de comunicação do novo governo estadual e que a estabilidade econômica fomenta novos negócios. Se esse ponto for pautado nas políticas públicas de cultura mais fortemente, assim como na área social e econômica, essa será, sim, uma possibilidade cada vez mais real.
Acrescente-se a favor dessa proposição o fato de que, finalmente, após um longo ostracismo, a classe artística musical paraense começa a se organizar – essa é uma das principais etapas a ser vencida. Iniciativas recentes e ainda pouco difundidas como a rearticulação da Associação Pro Rock, a criação do Movimento de Bandas Independentes do Pará (Mobip) e a mobilização do Movimento Bafafá do Pará demonstram isso. Enquanto propõem ações articuladas em vários níveis da sociedade, essas entidades e movimentos se articulam para criar um Fórum Paraense de Música Independente, aberto a todos os estilos e tendências. Esse movimento ganha mais força ainda na união com o empresário Ná Figueredo, quase um visionário, que tem lançado e distribuído há quase uma década, e quase sem apoio institucional algum, a maior parte da produção musical paraense relevante. Ná lançou, mesmo que em CDRs, a maioria das bandas paraenses de rock que têm sido apontadas pelos poucos críticos de credibilidade nessa área (como Pedro Alexandre Sanches, Benjamim Talbkin, Carlos Eduardo Miranda, Alex Antunes e Penna Schimidt) como trabalhos inovadores e criativos. De Suzana Flag a Madame Saatan, de A Euterpia a Norman Bates. Sem contar os campeões de vendas, Mestres da Guitarrada e Verequete. Ná lançou ou distribuiu ainda discos de artistas como Cravo Carbono, Deocley Machado, La Pupuña, Lu Guedes, Arraial do Pavulagem, Toni Soares, entre muitos outros.

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